Uma amizade que se transformou numa ideia concretizada.
Mônica Cristina Corrêa, presidente da AMAB, Associação Memória da Aéropostale, conta como conheceu José Augusto Cavalcanti Wanderley, proprietário da La Grande Vallée:
“Seguindo os traços de Antoine de Saint-Exupéry pelo Brasil, eu conheci o Zé, o José Augusto Wanderley. Gosto de chamá-lo de Zé pela proximidade do apelido com o do piloto-escritor entre nós, Zeperri. São dois “Zés” cujos rastros segui e que me trouxeram, cada um na sua dimensão, muita coisa boa.
Há alguns anos, li numa antiga nota da revista VEJA que uma casa na região de Itaipava-Petrópolis havia sido frequentada pelo autor do Pequeno Príncipe. Uma senhora, “Dona Daura” fizera homenagens ao escritor quando de seu centenário, em 2000, conseguindo que fosse providenciada uma placa para ser inserida num local muito cheio de natureza, mas em frente à tal casa que ele frequentava. Consegui falar com a dona Daura, que me contou do proprietário atual do imóvel, um senhor José Augusto Wanderley. E ela me passou o telefone dele.
Liguei sem saber exatamente o que esperar, mas a conversa fluiu e ele me contou mais detalhes do lugar. Que seu pai havia comprado a propriedade do piloto colega de Saint-Exupéry, Marcel Reine, nos anos 1930. Minha curiosidade atrelou-se à obrigação de pesquisadora de Saint-Exupéry no Brasil e, algum tempo depois, numa oportunidade, estando eu a trabalho no Rio de Janeiro, combinei com o Zé de conhecê-lo pessoalmente e ir até Itaipava ver o lugar.
Assim fizemos, ele me deu uma carona do Campo dos Afonsos, local do congresso de que eu participava, até aquele magnífico reduto, no meio da paz da floresta. A casa era conservada, repleta de alusões ao Pequeno Príncipe. O ambiente já tão lindo da serra do Rio de Janeiro se encheu de significado para mim naquele dia; almocei com o Zé num local próximo, havia sol e perfume no ar. Eu lhe disse que deveria, sem dúvida, fazer com que aquela casa, a insólita memória que ele preservava em seu interior e no entorno, se transformasse num lugar de visitação e mesmo de “peregrinação”, para os casos um pouco como o meu. O Zé ainda não cogitava isso como um projeto de vida, mas gostou da ideia.
Desde então, nós “criamos laços” exuperianos. Tornamo-nos amigos neste planeta da preservação da memória e no respeito aos sonhos. O tempo passou, o Zé foi cuidar daquele jardim onde conversáramos pela primeira vez, onde seu pai, outrora, sem nada suspeitar, cultivava rosas, justamente rosas.
Hoje, a casa de Itaipava é também a moradia do Zé, de sua companheira Elisa e do cachorrinho Raj. E é um ponto de referência turístico de Petrópolis e Itaipava, atraindo gente grande e crianças. A casa se impregnou do sentido que Saint-Exupéry dava à morada de cada um: de um “reservatório” de tradições familiares, cheia de ruídos próprios, de dizeres silenciosos. Uma casa que expande seu significado para quem a visita, que ilumina as recordações das gerações que a atravessam.
Para mim, é a casa do Zé e do Zeperri quando andava por lá. Portanto, uma casa onde parte de mim pode revelar-se pois, como escreveu Saint-Exupéry em Carta a um refém, “eu irei aonde sou puro”... Na casa do Zé, é a nossa amizade, a presença do Zeperri o estado de pureza que nos fez “olhar na mesma direção”, conforme recomendava também nosso piloto-escritor.”